No giz do gesto, o jeito pronto do piscar dos cílios, que o convite do silêncio exibe em cada olhar...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Escutatória

Por Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso deescutatória.Todo mundo quer aprender a falar...
Ninguém quer aprender a ouvir.Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.Escutar é complicado e sutil.Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.É preciso também que haja silêncio dentro da alma.Daí a dificuldade:A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.No fundo, somos os mais bonitos...Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes,ninguém fala.Há um longo, longo silêncio.Vejam a semelhança...Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano,ficam assentados em silêncio...Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial.
Aí, de repente, alguém fala.Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...Pensamentos que ele julgava essenciais.São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.Na verdade, não ouvi o que você falou.Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.Falo como se você não tivesse falado.Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu jápensei há muito tempo.É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo.
O que é pior que uma bofetada.O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo quevocê falou.E, assim vai a reunião.Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência depensamentos.E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.Eu comecei a ouvir.Fernando Pessoa conhecia a experiência...E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...Que de tão linda nos faz chorar.Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contra ponto.
Nem tudo deve ser explicado e entendido, quem sabe não precisamos buscarmenos respostas e levantar mais perguntas ainda não formuladas.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Feliz dia do Amigo.


"Há de se ter amigos

pra o resto da vida;

pra um segundo.

pra consolar;

pra dormir.

pra redenção;

pra danação.

pra chegar;

pra sumir.

pau pra toda obra;

pra um cafuné.

pra sentir 'que mundo bão!' se eles são

da gente.

pra sentir 'que mundo, o meu!

'se sou com eles!"



(Bruno Jerônimo)



terça-feira, 14 de julho de 2009

Nossa felicidade depende da nossa resolução.


"Fomos criados livres por Deus para vivermos na liberdade dos filhos d’Ele. Por essa razão, não podemos nos deixar escravizar por nada nem por ninguém.
Quanto mais acolhemos Jesus na nossa vida e tomamos a firme decisão a cada manhã que desperta de acolhê-Lo como Senhor da nossa vida, tanto mais somos verdadeiramente felizes, porque n’Ele temos vida plena.


“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10).

A nossa felicidade depende da resolução que nós tomamos. Precisamos muito mais da graça de Deus do que da nossa sabedoria pessoal.
No Senhor depositemos a nossa confiança em todos os nossos empreendimentos porque “o homem propõe e Deus dispõe” (cf. Provérbios 16,9)."


Luzia Santiago

terça-feira, 7 de julho de 2009

A poesia dos amigos.

"Coisa mais linda é descobrir-se que não há nada encoberto.
Que o tão longe é tão perto que dá para ouvir e tocar.
Coisa tão boa, saber que um amigo é pessoa que nos faz rir e chorar..."

Bernadete Ferraz.

domingo, 5 de julho de 2009

A Maturidade.



A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos.
A maturidade faz parte de um processo. Em um processo não podemos queimar etapas. Ele é lento, chato e demorado. Uma criança passa por um momento de amadurecimento a partir do momento que começa a brincar.
A maturidade acontece, quando tomamos posse do que nós somos, para aí então poder nos dividir com os outros. Isso faz parte do processo de maturidade. Não nascemos amando, pelo contrário, queremos ter a posse dos outros. Essa é a forma de amar da criança, pois ela não consegue pensar de maneira diferente. Ela não consegue entender que o outro não é ela. Quantas pessoas já adultas pensam assim, trata-se da incapacidade de amar, falta de maturidade. Todos os encontros de Jesus levam a implantação do Reino de Deus. Mas só pode implantar esse reino quem é adulto, que já entende que só se começa a amar a partir do momento, que eu não quero mudar quem eu amo.
Geralmente quando tememos alguém ruim ao nosso lado, é porque nos reconhecemos naquela pessoa. Jesus não tinha o que temer porque era puramente bom, por isso contagiava os que estavam ao seu lado. Na maturidade de Jesus você encontra a capacidade imensa de amar o outro como ele é. Amar significa: amar o outro como ele é. Por isso quando falamos em amar os outros, podemos perceber o quanto deixamos de ser crianças. Devemos nos questionar a todo o momento quanto a nossa maturidade. A santidade começa na autenticidade. Por isso Jesus nos pede para ser como as crianças, que são verdadeiras e simples. É nisso que devemos manter da nossa infância e não a forma de possuir as coisas para si.
Você tem condições para perceber a sua maturidade. É só observar se você é obediente mesmo quando não há pessoas ao seu redor. Você não precisa que ninguém te observe, pois você já viu aquilo como um valor. Pessoas imaturas sofrem dobrado. Pessoas imaturas querem modificar os fatos, pessoas maduras deixam que os fatos os modifiquem. A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos. Um imaturo ganha um limão e o chupa fazendo careta. O maduro faz uma limonada com o limão que ganhou. Muitas vezes os nossos relacionamentos de amizade são uns fracassos porque somos imaturos. Amigos não são o que imaginamos, mas o que eles são e com todos os defeitos.
Amizade é processo de maturidade que nos leva ao verdadeiro encontro com as pessoas que estão ao nosso lado. Elas têm todos os defeitos, mas fazem parte da nossa vida e não a trocamos por nada deste mundo. Isso porque temos alma de cristão e aquele que tem alma de cristão não tem medo dos defeitos dos outros, porque sabe que aqueles defeitos não serão espelhos para nós, mas seremos um instrumento de Deus para ele superar esse defeito.Padre só pode ser padre a partir do momento que é apaixonado pelos calvários da humanidade.
Se você não consegue lidar com os limites dos outros, é porque você não consegue lidar com os seus limites. A rejeição é um processo de ver-se. Toda vez que eu quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer do outro uma representação daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança. O anonimato é um perigo para nós. É sempre bom que estejamos com pessoas que saibam quem somos nós e que decisões nós tomamos na vida. É sempre bom estarmos em um lugar que nos proteja. Amar alguém é viver o exercício constante, de não querer fazer do outro o que a gente gostaria que ele fosse.
A experiência de amar e ser amado é acima de tudo a experiência do respeito. Como está a nossa capacidade de amar? Uma coisa é amar por necessidade e outra é amar por valor.
Amar por necessidade é querer sempre que o outro seja o que você quer. Amar por valor é amar o outro como ele é, quando ele não tem mais nada a oferecer, quando ele é um inútil e por isso você o ama tanto. Na hora que forem embora as suas utilidade, você vai saber o quanto é amado. Tudo vai ser perdido, só espero que você não se perca. Enquanto você não se perder de si mesmo você será amado, pois o que você é significa muito mais do que você faz.
O convite da vida cristã é esse: que você possa ser mais do que você faz! ”A maturidade nos faz perceber que não podemos mudar os fatos.
Padre Fábio de Melo