No giz do gesto, o jeito pronto do piscar dos cílios, que o convite do silêncio exibe em cada olhar...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Conheça seus medos

Imagem: Google

Estava pensando sobre o conceito de medo. Não vou escrever sobre fobias, medos decorrentes de distúrbios psicoafetivos, isso é questão para profissionais das áreas de saúde mental e psicologia. Mas abordarei dois tipos de medo, o medo que preserva e o medo que sabota. Um é cautela, o outro é paralisação.

Pode-se ter medo de tentar algo, de alguém ou de uma situação por sentir-se inseguro, por temer por sua integridade (física, mental, social, etc.), por achar-se despreparado, sem condições de levar adiante uma ação, pelo menos no momento, isso percebido numa autoanálise isenta, sincera. E pode-se ter um medo que é causado por um lado nosso que quer que nos prendamos a estruturas nem sempre muito boas, internas ou externas, que está ligado a percepções distorcidas que temos sobre nós e sobre o mundo.

Como identificar quando o medo é de um tipo e quando é de outro? Muitas vezes, é muito claro. Noutras, a coisa não é tão simples assim. Primeiramente, admitir que ter medo é normal e faz parte da vida é um bom começo. Sem culpas por sentir medo. Quem não tem medo de nada provavelmente está equivocado. Sim, porque o medo também é sinal de inteligência e percepção das coisas.

Tendo isso em mente, procurar fazer uma análise do motivo desse sentimento. É causado por questões reais ou por suposições, resistência a mudanças, ideia de falta de capacidade e força interior?

Se o medo é fruto de uma percepção racional, é um “recado” para tomar cuidado, se preparar mais, avaliar melhor a situação, provavelmente você está diante de um medo positivo, que evitará que faça uma besteira. Esse medo é uma mensagem interna que visa a protegê-lo de consequências negativas.

Quando perceber que o sentimento de medo não tem a ver com autopreservação, em vários sentidos, é hora de desconfiar que ele pode ser fruto de estruturas internas que não são muito positivas e são companheiras da insegurança, ansiedade, baixa autoestima. Aí, o que se tem a fazer, antes de superar esse sentimento, é resolver o que não está tão legal assim em seu interior e gera esse medo que acaba por atrapalhar sua vida.

Para ter essa percepção sobre os tipos de medo e conseguir resolver aqueles que são infundados e criados por uma visão distorcida sobre si, só com um conhecimento maior sobre quem você é. Novamente, é o autoconhecimento que trará as soluções. O olhar-se com sinceridade, disposto a ficar cara a cara com suas limitações, preconceitos, visões erradas sobre quem realmente é e o que quer, precisa. Sem se conhecer melhor, não poderá discernir sobre o que realmente sente. O autoconhecimento é trabalhoso, assusta, pode causar reviravoltas dentro e fora de você? Sim. Mas só por meio dele você consegue crescer e se libertar de tudo o que o prende a conceitos e situações que não lhe fazem bem, inclusive o tipo de medo que o impede de viver melhor. (Se nesse processo precisar da ajuda de alguém capacitado, não tenha vergonha, peça, isso não será sinal de fraqueza, mas de sabedoria.)

Texto: Marcus Facciollo




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não sei quase nada do MAR.

Imagem:Peter Holder


[...] Eu que não sei quase nada do mar.
Descobri que não sei nada de mim.


Latra: Ana Carolina e Jorge Vercilo.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Pernambuco de todos os carnavais"



Foto: Peter Holder


[...] Espero o ano inteiro

Até ver chegar fevereiro

Pra ouvir o clarim clarinar

E a alegria chegar

Essa alegria que em mim parece que não terá fim

Mas se um dia o frevo acabar

Juro que vou chorar.


Música: CapibaFrevo Canção



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Olhar


O olhar é muito mais do que função fisiológica, É uma linguagem forte. É um universo carregado de sentido. É condensação do mistério do homem.

Relata o destino de muita gente. Provoca alterações decisivas na vida.

Mesmo o olhar indiferente suscita reações contraditórias.
O olhar é, em grande parte, a morada do homem. O universo do olhar é vasto e misterioso.
Olhar habitação que acolhe o próximo que passava desabrigado.
Olhar rejeição que distancia o gesto de diálogo.
Olhar atração que cativa e envolve o semelhante.
Olhar envenenado que espalha ameaça.
Olhar inocente que semeia simplicidade pela face da terra.
Olhar malicioso que planta a semente da maldade no corpo dos homens.
Olhar indiscreto que revela as intimidades humanas.
Olhar sigiloso que arquiva quadros dolorosos e cenas humilhantes.
Olhar atento que não desperdiça o menor sinal de boa vontade.
Olhar displicente que esquece a presença do outro.
Olhar compreensivo que apaga os rastos dos erros.
Olhar intolerante que espreita o deslize da fraqueza.
Olhar generoso de Cristo que abraça toda Jerusalém.
Olhar mesquinho do fariseu que cata e filtra migalhas.
Olhar pastoral de Cristo que recupera Pedro hesitante.
Olhar encolerizado que fulmina o parceiro.
Olhar apelo que suplica compaixão e ajuda.
Olhar intransigência que cobra a última gota de sofrimento.
Olhar amor que unifica os que se querem.
Olhar ódio que esfaqueia os que se detestam.
Olhar história que vive a evolução das construções, o fluxo das gerações, o movimento dos estilos.
Olhar documentação que registra as clareiras dos horizontes, a floração dos campos, o sangue dos acidentes, o desesperado precipitando-se do edifício, o último aceno de quem está se afogando.
Olhar de ansiedade que fica na estrada acompanhando aquele que parte.
Olhar de esperança que não sai da estrada, aguardando a volta do filho pródigo.
Olhar do recém-nascido que anuncia a chegada de uma existência.
Olhar do agonizante que procura perpetuar sua presença entre os que ficam.
Olhar evangélico que anuncia o reino de Deus.
Olhar céptico que recusa os sinais da esperança.
Olhar consciente que ativa a reflexão humana.
Olhar coisificado que manipula os homens como objetos. Olhar libertador que retira o irmão do cativeiro moral. Olhar argentário que industrializa até os sentimentos humanos. Olhar decidido que busca a realização pessoal.
Olhar evasivo que evita o encontro com a realidade.
Olhar pacifico que reconcilia as vidas separadas.
Olhar reticente que fragmenta a confiança.
Olhar de perdão que põe de pé a quem estava caído.
Olhar de rancor que jura vingança impiedosa.
Olhar feroz do perseguidor, do tirano, do opressor.

Olhar encolhido, amedrontado do perseguido. Mas, que grandeza nesse olhar acuado! A última resistência do homem esmagado se refugia no olhar oprimido.
Diz Levinas que o arbitrário enxerga a sua vergonha nos olhos de sua vítima. Por isso, o agressor procura destruir, eliminar o oprimido. Pois não suporta o olhar que o acusa, que o julga, que o condena.
Mas, o Olhar que a arbitrariedade apaga na vida do oprimido, reacende-se na consciência do tirano como verme roedor. O olhar é também linguagem de Deus.

Do livro "ESTRADEIRO" de Juvenal Arduini - Edições Paulinas.